Editorial Portogente
07 de Outubro de 2024 às 06:10
O primeiro canal artificial para a navegação fluvial conhecido é o Grande Canal da China construído no séc. VI
Desde o período Neolítico, rios têm sido utilizados como vias essenciais para o transporte de cargas. Hoje, essa modalidade representa entre 5% e 10% do tráfego interno de mercadorias em grandes economias como os Estados Unidos, China e União Europeia. O transporte hidroviário oferece vantagens competitivas, combinando menor custo operacional e emissões reduzidas de carbono. Com cerca de 630.000 km de rios navegáveis em todo o mundo, o Brasil se destaca como o terceiro país com maior capacidade de navegação fluvial, ficando atrás apenas da China e da Rússia.
Apesar desse imenso potencial, o Brasil ainda utiliza apenas 30% de seus 63.000 km de rios navegáveis. A falta de políticas públicas eficazes é uma das principais razões para a subutilização desse modal de transporte. Além disso, as mudanças climáticas, com o aumento das secas nos rios da região Norte – a principal em termos de capacidade de escoamento de carga –, têm prejudicado ainda mais o setor. Um exemplo é a recente paralisação do transporte de grãos no Rio Madeira, que elevou os custos do setor exportador.
No maior porto do país, o Porto de Santos, ainda há debates sobre como viabilizar um sistema robusto de transporte fluvial. Um possível ponto de partida seria a revitalização do canal de Bertioga. A criação de condomínios logísticos e parques industriais ao longo dessa rota fluvial poderia alavancar a atividade econômica. A produção de pás eólicas nessa região, por exemplo, se beneficiaria enormemente do transporte direto ao Porto de Santos, reduzindo custos e tornando a exportação de cargas superdimensionadas muito mais atraente.
No entanto, uma política responsável de planejamento é fundamental. Um exemplo de oportunidade perdida foi a recente reforma da Ponte dos Barreiros, na qual não houve avaliação para o aumento do calado aéreo, que teria facilitado a navegação fluvial na região. Na Europa, bilhões de euros estão sendo investidos em um canal que ligará dois dos principais rios da França, mostrando o valor que países desenvolvidos atribuem a essa modalidade.
No Brasil, é urgente que o planejamento logístico antecipe as demandas futuras, tornando esse modal uma realidade viável e sustentável.
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